domingo, 29 de maio de 2011

EU ADORO JAZZ, NÉ PAI?


Em 1976, Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, o Belchior, lança o sucesso “Como nossos pais”, música imortalizada na voz de Elis Regina. Um trecho interessante da música diz: “[...] ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Chamo à memória a canção porque esta semana, no meio de uma conversa entre adultos, minha filha de 04 anos de idade, soltou um sonoro “Eu adoro Jazz, né pai?”. Devo confessar que na hora me senti extramamente feliz. Imaginem como a outra pessoa envolvida na conversa ficou impressionada.
Passada a euforia do momento, tive que cair na real e confessar, de modo introspectivo, que, muito provavelmente (ainda reluto em dizer “com certeza!”), ela não tem uma ideia muita clara do que disse. Provalvemente algum leitor deve está pessando “ah, as crianças simplesmente repetem as coisas que ouvem”. Pois é justamente isto que me deixa tão feliz.
Não versado nas Teorias de Aprendizagem, não domino as discussões feitas por Piaget, Vygostky e os outros especialistas, mas acredito que o grande Belchior tinha razão, “vivemos como nossos pais”. E não estou só nessa. O antropólogo Roque Laraia, na obra “Cultura: um conceito antropológico” apresenta a cultura como fruto de um processo de aprendizagem. E, particularmente, estou convicto de que nesse processo o contexto sócio-cultural é fator determinante.
Como o itenerário diário (casa – escola - casa) tem sido, normalmente, embalado ao som de John Coltrane, Eric Dolphy, Kenny Burrel, Diana Krall, Stacey Kent e, mais recentemente, Adele, espero que num futuro não muito distante minha filha repita o “eu adoro jazz, né pai?” convicta de todo o significado de sua afirmação.
Quem sabe um dia eu seja surpreendido ao ouvi-la cantorolar algumas estrofes de jazz... bem melhor do que certas letras de músicas que temos ouvido por aí.
Grande Belchior!