quinta-feira, 7 de junho de 2012

A BELEZA FUNDAMENTAL

                                              

Quem conhece a Clécia, não haverá de discordar de mim. Apesar de ser uma pessoa alegre, de boa índole, prestativa e confiável, é de uma ausência absoluta de beleza. Na verdade, há quem diga que a feiura lhe foi confeccionada sob medida. “Feia com arte!”, para usar uma expressão de meu pai. Tenho certeza que vocês nem podem imaginar como pode alguém personificar a feiura tão bem quanto Clécia. Ou melhor, acho que talvez vocês já estejam até fazendo um desenho imaginário da dita cuja.
Haja visto que ainda não dei nenhum detalhe específico de suas medidas, cor dos olhos, tipo de cabelo, formato do rosto etc., cada um de vocês, possivelmente, tem usado seus parâmetros pessoais para estabelecer o que eu tenho chamado de “desenho imaginário” de Clécia.
Pois bem, vamos conjecturar um tanto sobre estes tais “parâmetros pessoais”. A pergunta é: até que ponto eles são pessoais? A resposta desse questionamento poderá ser pensado a partir de outros como “quem definiu o que é belo e o que é feio?”ou “qual o padrão de beleza?”.
Apesar de Historiador, não irei agora encher este texto com detalhes sobre a variação do padrão de beleza ao longo da História. Todos somos conscientes que “belo” e “feio” são conceitos construídos e reconstruídos por cada sociedade numa variação de tempo e de espaço. Se, em 1817, a bordo da nau que a trazia para o Rio de Janeiro afim de se casar com D. Pedro, Leopoldina foi aconselhada por seu médico a engordar um pouco para se ajustar ao padrão de beleza dos brasileiros, hoje é a “moda” é bem outra. Mas não preciso recorrer a exemplos escondidos no que restou de seus livros de História do tempo de escola. Não se faz necessário. Basta lembrar como nossas avós adoravam dar conselhos sobre estética e saúde. A minha dizia, “esse menino precisa engordar um pouquinho, tá muito magro, tá feio”! Devo confessar que eu era o famoso “canela e osso”... Mas, voltemos ao que interessa. Hoje, há um verdadeiro “coro” de exaltação à magreza. Isto para ficarmos apenas no quesito “peso”. Muito ainda se poderia falar se fôssemos discorrer sobre aqueles outros pontos que citei no início do texto.
Voltemos a falar de Clécia. Ela não existe, eu a inventei. Mas caso ela fosse real, sei de pessoas que sem dúvidas a consideraria encantadoramente linda, minha filha, seu filho, nossos pequenos. Vocês já pararam para pensar como estes conceitos estéticos são vistos de maneira singular pelas crianças? É tudo mais simples, mais verdadeiro! Quem é bom, é lindo! Quem é mal, é feio! E pronto! Não tem rodeios. E ai de quem tentar questionar o julgamento que elas fazem.
Se Vinícius dizia que “beleza é fundamental”, o jargão popular vai além: “quem ama o feio, bonito lhe parece”.
Agora que pretendo terminar estas breves reflexões, talvez alguém possa se perguntar o que me motivou a escrever sobre este tema? Serei direto. Minha filha não aceita o fato de que eu considero o Neymar feio! Fazer o quê? …é como eu disse “[...] E ai de quem tentar questionar o julgamento que elas fazem”.


Obs: quem se interessar em conhecer um pouco sobre a variação do conceito de beleza ao longo da História, poderá ler um texto interessante que encontrei na ed. 25 da Revista da Cultura. Eis o link: <http://www.revistadacultura.com.br:8090/revista/rc25/index2.asp?page=beleza_tempo>.


Um comentário: