sexta-feira, 7 de setembro de 2012

ENFIM, 400 ANOS! NÃO É VERDADE? NÃO, NÃO É!



 Neste 08 de setembro de 2012, comemora-se o tão badalado 400 anos da fundação francesa da cidade de São Luís. Uma das mentiras mais descabidas da História. Como uma voz que clama pela verdade no meio de um mar de engano, a professora Lourdes Lacroix há anos vem denunciando o MITO da fundação de São Luis.
Ainda na introdução da obra “A Fundação Francesa de São Luís e seu Mitos”, lançado em 2001, a autora destacou:

Ao acompanhar a ação de La Ravardière e seus comandados, minuciosamente descrita por Claude d'Abbeville e Yves d'Evreux, verificamos a ausência de iniciativas para a formação de uma cidade no local de chegada dos súditos de Bourbon. A mejestosa procissão dos nobre e outros componentes da expedição, com seu fardões e estandartes por ocasião da segunda Missa celebrada em Upaon-Açu, pareceu-nos tão somente uma exibição de força e poder dos recém-chegados, solenidade significativa de posse das terras oficialmente consideradas portuguesas, naquele momento sob o domínio da Coroa francesa. Vimos a Missa como o símbolo da propagação do Cristianismo e início da catequese daqueles infiéis tupinambás. Nada mais que isso. Nenhuma demonstração concreta de que aquele promontório teria sido escolhido para a sede da futura colônia.
Inquieta com essa verificação, recorremos aos nossos mais antigos históriadores, de Berredo a João Lisboa, e não achamos nenhuma alusão à fundação de uma cidade pelos franceses. Surpresa, continuamos o rastreamente e constatamos que a referida afirmativa surgiu numa época de decadência econômica e conseqüente marasmo social. Logo nos perguntamos o porquê dessa construção. A resposta parece estar relacionada ao inconformismo e até ao ressentimento que acompanhou esse declínio. O maranhense tratou de cultivar o seu orgunlho, buscando mecanismo de defesa que obnubilasse seu desencanto. Passou a louvar o passado, mostrando para o resto do Brasil aquela província diferente, de povo educado, instruído, culto, sempre atento à questão venacular, sementeira de poetas e literatos. Para confirmar essa singularidade, transladou a fundação de São Luís das mãos portugueses para os franceses, inversamente à história das outras cidades brasileiras”. (os negritos ficam por minha conta!)

Fiz questão de transcrever esta parte da introdução do referido livro, para fazer eco junto a esse discurso de reconstrução da História de nossa cidade. Fundada pelo português Jerônimo de Albuquerque, em 1616!
Percebam que o texto transcrito acima fala de um discurso criado para construir a imagem de um “povo educado, instruído, culto...”. A professora Lourdes Lacroix não é a primeira a destacar a mania de ostentação dos que habitam esta terra. Ainda no século XIX o clérigo Domingo Cadávila Veloso Cascavel afirmava “O Maranhão tinha mais orgulho do que instrução”. E quantos de nós já ouvimos aquele célebre “o português mais correto do Brasil!”?
Pois é...
Chamo atenção de vocês para outra parte interessante da introdução do livro, quando a historiadora diz que em busca pelos historiadores mais antigos de nossa história não havia qualquer alusão a esta fundação francesa.
Pois é, e hoje a imprensa narra aos 'quatro ventos' esse tão comemorado 400 anos. Mas, o que será que dizia a manchete do Jornal “A Pacotilha”, (publicado em São Luís) na edição nº 214, de 08 de setembro de 1900 ??? Quais eram os destaques a este aniversário??? Nenhum!!! Nem sequer uma nota! NADA!!!
Aos que duvidam, deixo o link para consulta do jornal...
Cuidado! Se você é um dos que adoram dizer que esta é “a única capital do Brasil fundada por franceses” você poderá se decepcionar. Desculpa!
E o jornal do dia 08 de setembro de 1912, o da comemoração dos 300 anos? O que será que ele diz? Infelizmente, no arquivos digitalizados pela Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, o nº 213 data de 07 de setembro e o nº 214 é de 09 de setembro. Portanto, parece-nos que não houve edição no dia 08, pelo fato ser um dia de domingo. Mas, na edição de 09 de setembro de 1912 há uma nota chamada “O CENTENÁRIO”. Vejamos o que diz:

Das festas remomorativas da posse de S. Luiz, pelos francezes, em 1612, o número de mais relevo foi, sem duvida, o constante do certame das produções maranhenses.” O texto segue e em seguida diz: “Orou, depois, o sr. Luiz Domingues, que salientou a passajem dos francezas do Brazil, referindo-se tambem aos acontecimentos da reconquista portugueza”. (mais uma vez, os negritos são por minha conta)

E é só! Nada mais nos 300 anos de fundação!!! Ou melhor, NADA sobre fundação! Como era de costume fala-se da PASSAGEM dos franceses, não de fundação! Outro costume era falar da RESTAURAÇÃO portuguesa! (Quem quiser conferir, deixo o link http://memoria.bn.br/pdf/168319/per168319_1912_00214.pdf)
Pois é, meus caros, dizer o quê???
Creio que antes de comemorarmos estes controversos 400 anos, devemos nos ater aos nossos problemas mais reais, por exemplo a falta d'água. Aliás, este problema não é novo. Convido vocês a lerem uma nota que foi publicada no já citado nº 214, de 08 de setembro de 1900, do jornal A Pacotilha, sob o título “Falta d'água”

Já não são queixas, é um verdadeiro clamor, a grita que de todos os lados se levanta pedindo providencia para a falta d'agua que desde hontem augmenta assustadoramente.
Hoje poucos foram os lugares em que não faltou de todo o precioso liquido.
E pensar, Deus do céo! que isto se dá quando, na melhor hypothese, ainda nos restam a atravessar quatro longos mezes deste interminável verão, e que até lá, dia a dia, se aggravarà este estado de coisas!
A prespectiva da sêde, e da falta absoluta d'agua para a hygiene domestica, em uma época em que
a variola, irropendo em vários pontos da cidade, ameaça-nos com as suas conhecidas devastações; em que do visinho Estado do Ceará a peste bubonica, atira-nos olhares cubiçiosos, colloca a população em uma situação mais que precária, afflictiva.
Se ainda é tempo de remediar, urge que os poderes publicos se movam ante mais este perigo.
Não é de hoje que pedimos providencias n'esse sentido. Quanto o governo tratava de reformar o contracto que tinha com a Companhia das Águas, em successivos artigos nos occupamos d'este ponto—que era um mal periodico—affirmando que os poderes público descurariam dos interesses da população, senão imposessem á Companhia, como base de qualquer accordo, a obrigação de estender a sua canalisação a outros mananciaes, afim de poder no verão supprir a cidade da agua necessaria, apoiando-nos no facto jà então provado se ser insufficiente, n'esta época, os mananciaes do Barreto para as necessidades da população.
O governo, como de ordinario, foi surdo os nossos reclamações; e o contracto que firmou, aggravando a sorte do consumidor, pelo augmento do preço da agua, não a poz a salvo do supplicio que ora a ameaça—a sede.
Convém, pois, remediar, se ainda é possivel.”

Sabe o que é possível concluir de tudo que foi dito? Se a festa é coisa NOVA, sustentada num MITO... os problemas são REAIS e bem ANTIGOS!!!

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