Neste 08 de setembro de 2012, comemora-se o tão badalado 400 anos da
fundação francesa da cidade de São Luís. Uma das mentiras mais
descabidas da História. Como uma voz que clama pela verdade no meio
de um mar de engano, a professora Lourdes Lacroix há anos vem
denunciando o MITO da fundação de São Luis.
Ainda
na introdução da obra “A Fundação Francesa de São Luís e seu
Mitos”, lançado em 2001, a autora destacou:
“Ao
acompanhar a ação de La Ravardière e seus comandados,
minuciosamente descrita por Claude d'Abbeville e Yves d'Evreux,
verificamos a ausência de iniciativas para a formação de
uma cidade no local de chegada dos súditos de Bourbon. A
mejestosa procissão dos nobre e outros componentes da expedição,
com seu fardões e estandartes por ocasião da segunda Missa
celebrada em Upaon-Açu, pareceu-nos tão somente uma
exibição de força e poder dos recém-chegados, solenidade
significativa de posse das terras oficialmente consideradas
portuguesas, naquele momento sob o domínio da Coroa francesa. Vimos
a Missa como o símbolo da propagação do Cristianismo e início da
catequese daqueles infiéis tupinambás. Nada mais que isso.
Nenhuma demonstração concreta de que aquele promontório teria sido
escolhido para a sede da futura colônia.
Inquieta
com essa verificação, recorremos aos nossos mais antigos
históriadores, de Berredo a João Lisboa, e não achamos
nenhuma alusão à fundação de uma cidade pelos franceses.
Surpresa, continuamos o rastreamente e constatamos que a referida
afirmativa surgiu numa época de decadência econômica e conseqüente
marasmo social. Logo nos perguntamos o porquê dessa construção. A
resposta parece estar relacionada ao inconformismo e até ao
ressentimento que acompanhou esse declínio. O maranhense
tratou de cultivar o seu orgunlho, buscando mecanismo de
defesa que obnubilasse seu desencanto. Passou a louvar o
passado, mostrando para o resto do Brasil aquela província
diferente, de povo educado, instruído, culto, sempre atento à
questão venacular, sementeira de poetas e literatos. Para
confirmar essa singularidade, transladou a fundação de São Luís
das mãos portugueses para os franceses, inversamente à história
das outras cidades brasileiras”. (os
negritos ficam por minha conta!)
Fiz questão de transcrever esta
parte da introdução do referido livro, para fazer eco junto a esse
discurso de reconstrução da História de nossa cidade. Fundada pelo
português Jerônimo de Albuquerque, em 1616!
Percebam que o texto transcrito
acima fala de um discurso criado para construir a imagem de um “povo
educado, instruído, culto...”. A professora Lourdes Lacroix não é
a primeira a destacar a mania de ostentação dos que habitam esta
terra. Ainda no século XIX o clérigo Domingo
Cadávila
Veloso
Cascavel
afirmava “O Maranhão tinha mais orgulho do que instrução”. E
quantos de nós já ouvimos aquele célebre “o português mais
correto do Brasil!”?
Pois é...
Chamo atenção de vocês para outra
parte interessante da introdução do livro, quando a historiadora diz
que em busca pelos historiadores mais antigos de nossa história não
havia qualquer alusão a esta fundação francesa.
Pois é, e hoje a imprensa narra aos
'quatro ventos' esse tão comemorado 400 anos. Mas, o que será que
dizia a manchete do Jornal “A Pacotilha”, (publicado em São Luís) na edição nº 214, de
08 de setembro de 1900 ??? Quais eram os destaques a este
aniversário??? Nenhum!!! Nem sequer uma nota! NADA!!!
Aos que duvidam, deixo o link para
consulta do jornal...
Cuidado! Se você é um dos que
adoram dizer que esta é “a única capital do Brasil fundada por
franceses” você poderá se decepcionar. Desculpa!
E o jornal do dia 08 de setembro de
1912, o da comemoração dos 300 anos? O que será que ele diz?
Infelizmente, no arquivos digitalizados pela Hemeroteca Digital da
Biblioteca Nacional, o nº 213 data de 07 de setembro e o nº 214 é
de 09 de setembro. Portanto, parece-nos que não houve edição no
dia 08, pelo fato ser um dia de domingo. Mas, na edição de 09 de
setembro de 1912 há uma nota chamada “O CENTENÁRIO”. Vejamos o
que diz:
“Das festas remomorativas da posse de
S. Luiz, pelos francezes, em 1612, o número de mais
relevo foi, sem duvida, o constante do certame das produções
maranhenses.” O texto segue e
em seguida diz: “Orou, depois, o sr. Luiz Domingues, que
salientou a passajem dos francezas do Brazil,
referindo-se tambem aos acontecimentos da reconquista
portugueza”. (mais
uma vez, os negritos são por minha conta)
E é só! Nada mais nos 300 anos de
fundação!!! Ou melhor, NADA sobre fundação! Como era de costume fala-se da PASSAGEM dos franceses, não de fundação! Outro costume era falar da RESTAURAÇÃO portuguesa! (Quem quiser conferir, deixo o link
http://memoria.bn.br/pdf/168319/per168319_1912_00214.pdf)
Pois é, meus caros, dizer o quê???
Creio que antes de comemorarmos
estes controversos 400 anos, devemos nos ater aos nossos problemas
mais reais, por exemplo a falta d'água. Aliás, este problema não é
novo. Convido vocês a lerem uma nota que foi publicada no já citado
nº 214, de 08 de setembro de 1900, do jornal A Pacotilha, sob o
título “Falta d'água”
“Já
não são queixas, é um verdadeiro clamor, a grita que de todos
os lados se levanta
pedindo providencia para a falta d'agua
que desde hontem augmenta assustadoramente.
Hoje
poucos
foram os lugares em que
não faltou de todo o
precioso
liquido.
E
pensar, Deus do céo!
que isto se dá quando, na melhor
hypothese, ainda nos restam a
atravessar quatro
longos mezes
deste interminável verão, e que
até lá, dia a dia, se
aggravarà
este estado de coisas!
A
prespectiva da sêde, e da
falta absoluta d'agua para a hygiene
domestica, em uma época em que
a
variola, irropendo em
vários pontos da cidade, ameaça-nos com as
suas conhecidas
devastações; em que do visinho
Estado do Ceará
a peste bubonica, atira-nos olhares cubiçiosos, colloca a população
em
uma situação mais que precária,
afflictiva.
Se
ainda é tempo de remediar, urge que os poderes publicos se movam
ante mais este perigo.
Não é
de hoje que pedimos providencias n'esse sentido. Quanto o governo
tratava de reformar o contracto que tinha com a Companhia das Águas,
em successivos artigos nos occupamos d'este ponto—que era um
mal
periodico—affirmando que
os poderes público descurariam dos
interesses da população, senão imposessem á Companhia, como base
de qualquer accordo, a obrigação de estender a sua canalisação a
outros mananciaes, afim de poder no
verão supprir a cidade da agua
necessaria, apoiando-nos no facto jà então provado se ser
insufficiente, n'esta época, os mananciaes do Barreto para as
necessidades da população.
O
governo, como de ordinario, foi surdo os nossos reclamações; e o
contracto que firmou, aggravando a sorte do consumidor, pelo augmento
do preço da agua, não a poz a salvo do supplicio que ora a ameaça—a
sede.
Convém,
pois, remediar, se ainda é possivel.”
Sabe o que é possível concluir de tudo que foi dito? Se a festa é
coisa NOVA, sustentada num MITO... os problemas são REAIS e bem
ANTIGOS!!!
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